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quinta-feira, 24 de junho de 2010

SAÚDE PÚBLICA : AS VERTENTES DA MEDICINA SOCIAL

SAÚDE PÚBLICA : AS VERTENTES DA MEDICINA SOCIAL

Podemos considerar essas vertentes da política médica como três:

 Medicina Urbana (França)- Os trabalhadores rurais vão para as cidades que não estavam preparadas para receber uma população extra e numerosa, em termos de infra-estrutura e provoca uma necessidade de reestruturação dos espaços físicos.
Medicina de Policia Médica (Alemanha)- Que foi adotada tendo como essência a necessidade de reestruturação e unificação do Estado Alemão que era dividido em pequenas repúblicas.
O processo de industrialização iniciou-se pela Inglaterra e depois passou para a França só chegando à Alemanha no final do processo. É na França e na Alemanha, que em 1918 surge o primeiro tratado de saúde pública, centrado no Estado e com descentralização para o atendimento, que tinha em sua essência o número de “atendimentos” que seria efetuado por um determinado médico.
A saúde pública Francesa, de natureza urbana, criou o sistema de quarentena que consistia num processo de vigilância de pessoas que estariam com doenças.

A quarentena tem sua origem na bíblia, que depois foi utilizada em termos de saúde pública para o controle de epidemias através do isolamento do doente em determinados espaços físicos. Baseado na natureza urbana da medicina social francesa surgiu à idéia de higiene social que está ligada ao processo de quarentena, a propriedade da terra e a idéia de construções sociais caracterizadas pelo medo de epidemias.
A saúde pública na Inglaterra já teve uma conotação diferente, pois se alicerçou no que poderíamos denominar de policia médica para a preservação da força de trabalho, além também, em menor escala, da aderência ao espaço urbano (1843). A preocupação da saúde pública no Estado Inglês era o cuidado com a saúde do pobre inicialmente, seguindo-se em termos de prioridade da saúde do trabalhador.

O sanitarismo pode ser considerado uma vertente da saúde pública Inglesa. A terminologia Medicina Social foi utilizada inicialmente, em 1848, por Giulius Derrant, na França, que era médico clínico. Incorporou-se a idéia de que a medicina social deveria ser exercida por médicos, o que não acontecia anteriormente.
Com a Medicina Social como prerrogativa exclusiva do médico inicia-se a grande politização da saúde.

Surge entre 1870 e 1900 o capitalismo monopolista, os cartéis, as corporações e truste. Aparecem na época movimentos que reivindicavam a diminuição da jornada de trabalho (mais valia relativa) e também a medicina científica. Nesse período onde prevalece à medicina científica, a medicina social fica a margem das discussões e num estágio secundário. Surge na época o olhar armado, em substituição ao olhar empírico em função das descobertas do microscópio e dos microorganismos por Pasteur, entrando em cena na epidemiologia o agente etiológico específico. Como podemos verificar a epidemiologia passa de seu empirismo clássico para uma nova fase representada pelo olhar armado.
Os hospitais e instrumentos de laboratórios começam a surgir nessa época. A partir do microscópio buscou-se a unicausalidade das doenças e surgem descobertas importantes como, por exemplo, os agentes etiológicos da cólera, tifo, peste, dentre outros. Evidentemente, o período foi repleto de grandes descobertas e mudou o perfil epidemiológico hegemônico.

Em 1911, Grosse desenvolveu em termos de epidemiologia idéias sobre freqüência de doenças, como as mesmas ocorriam, a forma como ocorriam, a relação etiológica, a origem e causas, o tratamento médico, a prevenção e como influenciar seu curso. A epidemiologia, portanto vai mudando o seu curso através da história (Slow a Grosse).

A partir de 1950, ocorre a retomada da questão social, e houve a transformação dos países que se urbanizaram, e desaparecem e surgem novas doenças como, por exemplo, as doenças crônicas degenerativas dentre outras, que muda novamente o perfil epidemiológico da saúde pública das populações, principalmente urbanas.
A preocupação atual não passa a ser só com as doenças parasitárias ou infecciosas, pois houve uma mudança do quadro etiológico deixando de se levar em conta a unicausalidade para se levar em conta a multicausalidade.

Em 1955 aparecem Leweel e Clark (História Natural da Doença) que começam a não lidar mais com o agente etiológico, mas sim com três elementos representados pelo agente causal, pelo doente e o ambiente (físico, químico e social).

Em 1970 inicia-se um processo em que se passa a considerar a determinação social da doença. Iniciam-se as idéias de que as epidemias se devem a uma desorganização social que passa a ser considerado um componente importante na discussão da epidemiologia moderna, apesar de que já no século XIX, não podemos deixar de considerar que as teorias do miasma também tivessem um cunho social. As práticas e saberes da epidemiologia foram se transformando ao longo da história não de maneira linear.

Fatores como a produção social, a categoria trabalho, as classes sociais o Estado e a democracia como categorias estruturais e fenomênicas tiveram relevância para o acompanhamento do estudo da epidemiologia através dos tempos.
Entre os anos de 1950-1990 houve no Brasil um destaque muito grande para a saúde pública, através de alguns acontecimentos, tais como:

·         1960-1970 - Aparecimento da medicina comunitária decorrente da idéia da medicina integral, que passa a levar em consideração o estado biopsicosocial e não mais somente o biológico.

·         1971 - Medicina preventiva (IMS)- Saúde pública / saúde coletiva.

O modelo da saúde coletiva no Brasil seguiu o modelo Francês da saúde urbana, apesar do inicio do século Oswaldo Cruz ter aplicado modelos muito semelhantes também aos modelos Inglês e Alemão.

Concluindo, a medicina unicausal, que levava em consideração aspectos tais como o agente etiológico da doença, a patologia provocada por esse agente etiológico, o diagnóstico clínico e complementar da doença, as formas de tratamento, a profilaxia e a prevenção, passa a incorporar questões mais abrangentes como classe social, tipo de trabalho, meio ambiente dentre outros dando uma nova dimensão ao modo de se ver uma doença o que lava a uma nova visão multicausal.

FONTE


WILKEN , P.R.C. POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL – O Sistema único de Saúde: Uma Realidade em Construção, 2005, H.P. Comunicação Editora, Rio de Janeiro.

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